Morre o escritor Monteiro Lobato, criador de O Sítio do Pica-pau Amarelo
4 de Julho de 1948
No 4 de julho de 1948 morria, em São Paulo, o renomado escritor José Bento Monteiro Lobato, que se destacou principalmente na literatura infanto-juvenil. Ele ficou conhecido por clássicos como "Ideias de Jeca Tatu" (1918), "Reinações de Narizinho" (1931), "Caçadas de Pedrinho" (1933) e "O Pica-pau Amarelo" (1939). Mas, desde o início dos anos 2000 seus livros têm sido reavaliados e criticados devido a diversas passagens que envolvem preconceito e racismo. Nascido no dia 18 de abril de 1882, em Taubaté (SP), Monteiro Lobato sempre foi polêmico e árduo defensor das próprias ideias. Em 1917, publicou um famoso artigo que criticava uma exposição da pintora Anita Malfatti. O texto, chamado "Paranoia ou Mistificação?", falava das influências dos "ismos", como o futurismo, cubismo e surrealismo na arte de Malfatti que, apesar disso, tinha um "talento vigoroso, fora do comum". O escrito, contudo, não aprovava essa proximidade da artista com a cultura europeia. Com isso, Monteiro Lobato, de início, ganhou antipatia dos artistas ligados ao modernismo em São Paulo. Anos mais tarde, no entanto, ele faria as pazes com alguns representantes do movimento, como Mario de Andrade. Nos anos seguintes, Lobato publicou seus primeiros livros. Em "Urupês" (1918), ele deu vida a um dos seus mais conhecidos personagens, o Jeca Tatu. Sua criação gerou muita polêmica, já que traçava um retrato pouco elogiável do "caipira" como um sujeito preguiçoso, que simbolizava a miséria do campo no Brasil. Outros livros de sua fase inicial são "Cidades Mortas" (1919) e "Negrinha" (1920).
Monteiro Lobato, no entanto, não é reconhecido apenas pelos livros que escreveu, mas também por ter opiniões polêmicas e crenças muito racistas. Há poucos anos foram descobertas diversas cartas em que o autor fazia elogios à Ku Klux Klan, seita supremacista branca que assassinava negros e judeus nos Estados Unidos. Além disso, ele foi um dos pensadores que defendia uma política eugenista no Brasil (teoria que visa a seleção de seres humanos com a finalidade de criar uma raça "melhorada"), pregando a superioridade da raça branca e o extermínio da população negra.
Em 1927, Monteiro Lobato mudou-se para os Estados Unidos. Ficou lá até 1931 e enfrentou problemas com o seu livro "O Presidente Negro e o Choque de Raças", no qual contava a história da vitória de um candidato negro à presidência dos Estados Unidos. A obra fazia uma defesa aberta da inferioridade da raça negra e da necessidade de adoção de medidas de esterilização. A ideia era tão absurda que, ao tentar publicar esse livro nos Estados Unidos, país que vivia o auge da segregação racial, Lobato foi rejeitado pelas editoras, que consideraram o livro muito ofensivo. Apesar de não ter sido bem aceito nos Estados Unidos, sempre defendeu este país por conta do seu desenvolvimento, principalmente da infraestrutura. No seu retorno ao Brasil, em 1931, Monteiro Lobato defendeu com unhas e dentes um outro ideal: acreditava nas riquezas naturais do país e na produção de petróleo. Por conta disso, chegou a enviar uma carta ao presidente Getúlio Vargas, criticando o governo e foi preso. Em 1941, voltaria a ser preso pelo mesmo motivo. Esta luta pelo petróleo o deixou pobre e doente, resultando no derrame que causou sua morte em 1948.