Morre o cantor Cauby Peixoto, uma das maiores vozes da música brasileira
O cantor Cauby Peixoto morreu em 15 de maio de 2016, aos 85 anos, em São Paulo, vítima de uma pneumonia. Dono de uma das mais belas vozes da música brasileira, ele também chamava atenção pelo estilo extravagante das suas roupas e cabelo. Em cerca de 60 anos de carreira, o artista lançou mais de 140 discos, entre compactos e LPs, e se consagrou como grande ídolo da Era do Rádio.
Nascido em Niterói (RJ), Cauby já veio ao mundo com a música em seu DNA: seu pai era compositor, cantor e pianista, enquanto sua mãe era cavaquista. Caçula de seis irmãos, iniciou a carreira profissional no início da década de 1950 ao se apresentar em programas de calouros como a "Hora dos comerciários", da Rádio Tupi. Gravou seu primeiro disco, em 1951, com o samba "Saia branca", de Geraldo Medeiros, e a marcha "Ai, que carestia!", de Victor Simon e Liz Monteiro.
Em 1952, Cauby mudou-se para São Paulo, onde cantou em boates e também se apresentou na Rádio Excelsior. Como tinha grande facilidade para interpretar canções em inglês, tentou entrar no mercado musical dos Estados Unidos. Convidado para uma excursão aos EUA, gravou com o nome artístico de Ron Coby um LP com a orquestra de Paul Weston. Em 1956, ele apareceu no filme Com Água na Boca cantando seu grande sucesso, "Conceição".
Em 1957, Cauby foi o primeiro cantor brasileiro a gravar uma canção de rock em português, "Rock and Roll em Copacabana", composta por Miguel Gustavo. Ele ainda gravaria "Enrolando o Rock", mas sua passagem pelo gênero se encerraria ali (com a exceção de uma participação na música "Romântica", da banda Tokyo, do cantor Supla, em 1985). Em outra visita aos EUA, Cauby participou do filme Jamboree (1957), que também contava com astros do rock como Carl Perkins, Fats Domino e Jerry Lee Lewis. Em 1959, ele fez uma nova temporada de 14 meses nos EUA, onde apareceu na televisão e gravou, em inglês, "Maracangalha" (Dorival Caymmi), que recebeu o título de "I go".
As apresentações de Cauby costumavam causar frenesi entre suas fãs: muitas delas chegavam até a rasgar as roupas do cantor. Em 1964, ele comprou, em sociedade com os irmãos, a boate carioca Drink, passando a se dedicar mais à administração da casa. A nova empreitada se deu, contudo, numa época em que as boates também estavam decaindo, devido aos elevados custos para mantê-las. Após o golpe militar, vários políticos ligados ao governo deposto pararam de frequentar os estabelecimentos, agravando a crise deles.
Cauby ficou à frente da casa até 1968, período no qual se manteve afastado dos meios de comunicação e da legião de fãs que não tinham condições financeiras de frequentar a boate (único local onde ele ainda se apresentava). Nos anos 70, Cauby passou por um período de ostracismo, mas voltou à ativa na década seguinte, quando artistas e admiradores como Caetano Veloso, Tom Jobim, Jorge Ben, Roberto Carlos e Erasmo Carlos compuseram as canções que ele gravou no disco Cauby! Cauby! (1980). O álbum trazia um dos maiores sucessos de sua carreira, a música "Bastidores", composta por Chico Buarque.
Em 1982, Cauby fez uma temporada no 150 Night Club (SP), com os irmãos Moacyr (pianista) e Araken (pistonista), e lançou o LP Ângela e Cauby, o primeiro encontro dos dois cantores em disco. Em 1989, seus 35 anos de carreira foram comemorados no bar e restaurante A Baiuca (São Paulo), ao lado dos irmãos Moacyr, Araken, Yracema e Andyara. Em 1993, foi o grande homenageado, ao lado de Ângela Maria, no Prêmio Sharp. Ao mesmo tempo, foi lançada pela Columbia uma caixa com dois CDs abrangendo as gravações de 1953 a 1959, com sucessos como "Conceição", entre outros.
Em 2015, foi lançado o documentário Cauby - Começaria tudo outra vez, de Nelson Hoineff. O filme, com duração de noventa minutos, conta toda a trajetória do artista. Nele, Cauby fala de temas como sobre a sua homossexualidade, seu eterno recomeço, e a sinergia com o público. Nos últimos anos de carreira, Cauby se apresentava regularmente no Bar Brahma, localizado na famosa esquina das avenidas Ipiranga e São João, no centro de São Paulo.