Queda da Comuna de Paris

28 de Maio de 1871

Queda da Comuna de Paris
28 de Maio de 1871, Queda da Comuna de Paris

Em 28 de maio de 1871 chegou ao fim a Comuna de Paris, um governo revolucionário e socialista radical que havia sido instituído na capital francesa em março do mesmo ano. A experiência é considerada por alguns estudiosos como a primeira república proletária da história. A ideia era implementar uma política de caráter socialista, baseada nos princípios da Primeira Internacional dos Trabalhadores.

A situação que levou à fundação da Comuna começou a se desenhar em 2 de setembro de 1870, após a derrota da França na Batalha de Sedan na Guerra Franco-Prussiana. Como consequência, o imperador Napoleão III rendeu-se ao chanceler prussiano Otto von Bismarck. Quando a notícia chegou a Paris no dia seguinte, multidões chocadas e furiosas saíram às ruas.

Com isso, deputados republicanos e radicais da Assembleia Nacional foram para o Hôtel de Ville, proclamaram a nova República Francesa e formaram um governo de defesa nacional. Embora o imperador e o exército francês tivessem sido derrotados em Sedan, a guerra continuou. O exército alemão marchou rapidamente em direção a Paris.

Governo Provisório

As províncias francesas elegeram para a Assembleia Nacional Francesa uma maioria de deputados monarquistas francamente favorável à capitulação ante a Prússia. Grupos organizados de Paris, no entanto, opunham-se a esse resultado.

Louis Adolphe Thiers, elevado à chefia do Governo Provisório, tentou conter os rebeldes. Estes, porém, provisoriamente com o apoio da então denominada Guarda Nacional, contiveram a intervenção estatal, obrigando os membros do governo a abandonar precipitadamente Paris, onde o comitê central da Guarda Nacional passou a exercer sua autoridade. Apesar da evidente disposição do povo parisiense em resistir, a Assembleia de Versalhes acabou assinando a paz com os alemães.

A fundação da Comuna

A Comuna resultou, em parte, do crescente descontentamento entre os trabalhadores de Paris. Além de ser contra à rendição à Prússia, eles estavam insatisfeitos com as condições de vida e de trabalho. Muitos parisienses, especialmente trabalhadores e as classes médias baixas, apoiaram uma república democrática.

Convictos na resistência ao exército estrangeiro, a Guarda Nacional assaltou a prefeitura e expulsou os membros da assembleia. A administração pública de Paris agora se encontrava nas mãos do Comitê Central da Guarda Nacional. Em 18 de março, o presidente Thiers mandou desarmar a Guarda Nacional numa operação sigilosa durante a madrugada. Tomados de surpresa, os parisienses expulsam o contingente de Thiers, dando início à independência política de Paris frente à Assembleia de Versalhes, culminando com a eleição e a declaração da Comuna.

A guarda nacional se misturou aos soldados franceses, que se amotinaram e massacraram seus comandantes. Após a fuga do governo oficial, Paris ficou sem autoridade. O Comitê Central da federação dos bairros ocupou este vácuo, e se instalou na prefeitura.  O governo revolucionário foi formado por uma federação de representantes de bairro (a guarda nacional, uma milícia formada por cidadãos comuns). Uma das suas primeiras proclamações foi a "abolição do sistema da escravidão do salário de uma vez por todas".

Eleições foram realizadas, mas obedecendo à lógica da democracia direta em todos os níveis da administração pública. A polícia foi abolida e substituída pela guarda nacional. Entre outras realizações da Comuna estavam a abolição do trabalho noturno, a legalização dos sindicatos, desapropriação e ocupação de residências vazias, instituição da igualdade entre os sexos e o fim da pena de morte.

A queda da Comuna

Após selar a paz com a Prússia, o governo oficial, agora instalado em Versalhes e sob o comando de Thiers, tinha como objetivo principal esmagar a Comuna de Paris. Assim, aconteceu o episódio conhecido como "Semana Sangrenta". Em sua queda, os revolucionários destruíram os símbolos do Segundo Império Francês - prédios administrativos e palácios - e executaram reféns, em sua maioria clérigos, militares e juízes.

Ao todo, a Comuna de Paris executou cem pessoas e matou outras novecentas em conflito com o governo oficial. As tropas de Thiers, por outro lado, executaram 20 mil pessoas, número que, somado às baixas em combate, provavelmente alcançou a cifra dos 80 mil mortos. Quarenta mil pessoas foram presas e muitas delas foram torturadas e executadas.

A Comuna é considerada, por grupos políticos revolucionários posteriores (anarquistas, comunistas, situacionistas), como a primeira experiência moderna de um governo popular. Debates sobre as políticas e os resultados da Comuna tiveram influência significativa nas ideias de Karl Marx, que a descreveu como um exemplo da "ditadura do proletariado".

Imagem: Bruno Braquehais, via Wikimedia Commons