João Donato, um dos grandes mestres da música brasileira, morre aos 88 anos
17 de Julho de 2023
O músico João Donato morreu em 17 de julho de 2023, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado devido a uma infecção nos pulmões. Renomado músico, compositor e arranjador, o artista foi um dos grandes expoentes da música brasileira, notadamente no gênero da bossa nova e MPB.
Nascido em Rio Branco, no Acre, João Donato se mudou para o Rio de Janeiro com a família aos 11 anos de idade. Desde muito jovem, ele demonstrou seu talento musical. Aprendeu a tocar acordeão ainda criança e, mais tarde, estudou piano clássico. Influenciado pelo jazz dos Estados Unidos desenvolveu um estilo único e inovador, incorporando elementos de improvisação e harmonias complexas em suas composições.
Donato começou sua carreira profissional nos anos 1950, tocando em casas noturnas e boates do Rio de Janeiro. Logo se tornou um músico requisitado e trabalhou com alguns dos maiores nomes da música brasileira, como Tom Jobim e João Gilberto. Sua colaboração com João Gilberto resultou em arranjos e composições icônicas, como a clássica "Minha Saudade".
A partir de 1953, Donato passou a comandar suas próprias formações instrumentais: Donato e seu Conjunto, Donato Trio, o grupo Os Namorados. Três anos depois, a Odeon escalou um iniciante para fazer a direção musical de Chá Dançante (1956), primeiro LP de Donato e seu Conjunto. Tom Jobim fez a seleção musical do disco, incluindo no repertório músicas como "No Rancho Fundo" (Lamartine Babo – Ary Barroso), "Carinhoso" (Pixinguinha – João de Barro), "Baião" (Luiz Gonzaga – Humberto), "Peguei um Ita no Norte" (Dorival Caymmi).
Na década de 1960, João Donato decidiu partir para os Estados Unidos, onde explorou novas sonoridades e influências musicais. Trabalhou com artistas de renome, como Mongo Santamaría, Cal Tjader e Tito Puente, e participou ativamente da cena jazzística dos EUA. Sua música ganhou uma abordagem mais cosmopolita, misturando ritmos latinos, jazz e elementos eletrônicos. Em 1962, regressou ao Brasil e concebeu dois clássicos da música instrumental brasileira, Muito à Vontade (1962) e A Bossa Muito Moderna de João Donato (1963).
Ao longo de sua carreira, João Donato lançou diversos álbuns aclamados pela crítica e pelo público. Entre seus trabalhos mais famosos estão A Bad Donato (1970), Quem é Quem (1973) e Lugar Comum (1975). Suas composições foram gravadas por inúmeros artistas, tanto no Brasil quanto no exterior, e suas performances ao vivo eram conhecidas pela energia contagiante e virtuosismo musical.
Nas décadas seguintes, ele continuou a gravar e se apresentar ao vivo. Seus últimos anos de carreira foram muito férteis. Em 2017, lançou com seu filho Donatinho o disco Sintetizamor, que foi novamente eleito pela Rolling Stone Brasil como um dos melhores do ano, ficando na 16ª colocação. Em 2021, concretizou sua parceria com Jards Macalé, com quem gravou o disco Síntese do Lance, álbum que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica.